O grupo Pró-Posição apresenta no
dia 22/9, em São Bernardo, o espetáculo Vis-à-Vis, às 20h no Teatro
Abílio Pereira Almeida.
Com recursos do teatro e da
música, a acordeonista Janice Vieira e a atriz Andréia Nhur (mãe e filha)
acertam as contas entre o engajamento artístico dos anos 1960/70 e o movimento
radical chic, enquanto dançam. Em sua terceira parceria na concepção e
interpretação, histórias viram gestos, palavras e sons.
Em 2008, as duas “reativaram” o
grupo fundado em 1973 por Janice. O uso do nome é uma forma de rememorar o que
há pouco foi dito (ou dançado). O espetáculo é híbrido e mais próximo das
propostas do Pró-Posição daquela época, por suas escolhas estéticas. “A dança
atual está opaca e busca fugir da tirania dos significados, da representação,
das mensagens, optando por uma plástica do quase nada”, diz Janice Vieira.
A dança daqueles tempos no
Brasil — que era marcada pela ditadura militar e também pelos ecos de mudança
no mundo todo – vem à cena pelo testemunho da mãe, que recorda, e pelo olhar
historiográfico da filha, que investiga o passado.
Nos primeiros momentos, uma blusa
de mangas muito compridas, similar a uma camisa de força usada por Janice no
espetáculo Boiação (1976), como símbolo da repressão da época, volta à cena.
Une as intérpretes num duo; depois serve como um prolongamento dos braços da
mãe, num solo.
Roberto Gill Camargo, que é
colaborador artístico e pai de Andréia, criou o desenho de luz. Não há cor,
apenas um azul vindo de trás rebate o branco das cenas, usado para sugerir a
ideia de que presente e passado são continuações e não instantes representados
por oposições cromáticas.
“Não é um branco difuso, sem
vida, mas com variações de ângulo, direção, amplitude e intensidade. A intenção
foi criar uma luz integrada a um discurso cênico que contrapõe, justapõe e
estabelece correspondências entre presente e passado. Não queria representar o
passado com a luz, (num tom sépia e envelhecido) mas sim trazê-lo, como se
estivesse acontecendo agora”, explica Roberto Gill Camargo.
Frente a
frente
O espetáculo conta também com a
colaboração de Isabelle Launay, pesquisadora francesa da história da dança do
século XX. Ao ver as indagações que surgiam na parceria entre Janice e
Andréia, ela sugeriu o nome Vis-à-Vis – expressão francesa que significa frente
a frente.
“Isabelle viveu no Brasil quando
criança e seus pais eram de esquerda. Uma questão comum nos atravessa: ‘o que
nos deixaram as gerações dos anos 1960 e 70’. Na última cena, em que interpreto
Summertime (de George Gershwin), considerada um hino naquele período, nos EUA,
esta pergunta parece vaguear em torno de nós”, diz Andréia Nhur.
A criação começou à distância,
com troca de cartas – dois trechos da correspondência entre mãe e filha compõem
a dramaturgia. Em 2011, em Paris, Andréia teve as primeiras conversas com
Isabelle, estudiosa de coreógrafos que compõem com memórias corpos-depoimentos.
No meio do processo, Janice foi para lá e começaram a pesquisar cenas, objetos
e signos, como a caixinha de música de manivela com o Hino Internacional
Comunista (de Eugene Pottier e Pierre Degeyter).
No palco, caminhos contrários. O
que antes fazia sentido para a mãe - pensar a arte como protesto, não é mais
preciso; já para a filha se reportar àquele tempo, ela tem de imaginar como
seria fazer dança política.
Outro exemplo das diferenças
entre as duas gerações se expressa através do resgate das memórias da infância.
Andréia lembra o Michael Jackson, enquanto Janice dança o baião. “Tudo que
apresentamos resulta da história de nossos corpos e está atravessada pela
coletividade. As nossas vivências conversam com as de outras pessoas que
dançaram as mesmas coisas”, fala Andréia.
Além de uma citação de Billie
Jean (faixa de Thriller, de Jackson) sobreposta ao Baião, ruídos de alerta e
canções com tom revolucionário, como as Czardas (Vittorio Monti), compõem a
trilha. Responsável pela criação musical, Janice também toca ao vivo, em alguns
momentos, num pequeno acordeom. No repertório, uma composição própria, Valsa
Maia (1999).
Ficha técnica
Criação e interpretação Andréia Nhur e Janice Vieira
Criação musical Janice Vieira
Colaboração Isabelle Launay
Iluminação Roberto Gill Camargo
Produção Dudu Oliveira
Assessoria de imprensa Lu Cassas & Lica Nielsen
Fotos Inês Correa
Apoio Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura - Programa de Ação Cultural – 2011
Serviço:
O que: Espetáculo Vis-à-Vis
Quando: 22 de setembro, sábado
Horário: 20h
Onde: Teatro Abílio Pereira Almeida
Endereço: Praça Cônego Lázaro Equini, 240 - Baeta Neves - São Bernardo do Campo
Quanto: Gratuito
Horário de funcionamento da bilheteria: meia hora antes da apresentação.
Mais informações: 4125-0582